Onde está a diversidade na comunicação?
Por Bárbara Moraes*
Seja nas novelas, propagandas, na TV e, claro, nas redes sociais, a diversidade tem sido um tema recorrente. Segundo o Censo mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 45,3% da população do país se declarara parda. Foi a primeira vez, desde 1991, que esse grupo predominou. Além disso, 20,6 milhões de pessoas se declararam pretas.
Pensando no mundo do trabalho, o termo “diversidade e inclusão nas empresas” teve um aumento nas buscas no Google Trends nos últimos 10 anos. Porém, como está a diversidade na comunicação?
Em uma rápida pesquisa na base de dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), é possível descobrir que a realidade do país não se reflete nas faculdades. Pretos, pardos e indígenas somam 33,9% de ingressantes no curso de jornalismo e 27,8% em relações públicas. Além disso, quando se busca sobre a área de assessoria de imprensa, os dados ainda são escassos. Mas por que é tão importante termos diversidade dentro das agências?
Primeiro porque é lucrativo. Segundo o levantamento McKinsey and Co., as companhias com maior diversidade tem 21% mais chances de apresentar resultados acima da média do mercado do que as empresas com menor diversidade do grupo.
Ademais, o ponto fundamental para o incentivo da diversidade no setor é a necessidade da comunicação de refletir a sociedade. Na década de 1960, o economista alemão Theodore Levitt cunhou o termo miopia em marketing, ou seja, uma situação na qual uma empresa se concentra muito em seus produtos ou serviços em vez de se concentrar nas necessidades e desejos de seus clientes. Pensando sob essa perspectiva, fica claro que de nada adianta um esforço comunicacional se o mesmo é míope, incapaz de engajar e impactar o público alvo.
Um exemplo simples é a mulher negra. Hoje, elas movimentam R$ 704 bilhões anualmente, de acordo com o levantamento feito pelo Instituto Locomotiva. Além disso, elas têm um poder de decisão financeira maior que o percebido, pois muitas administram as compras do lar e influenciam nos gastos dos parentes. Em contrapartida, apenas 17% dos comerciais de TV protagonizados por mulheres são estrelados por negras, segundo pesquisa da agência Heads. Ou seja, temos um público que representa 27,8% da população brasileira, mas a publicidade ainda é míope para sua existência.
Para além da publicidade, no mercado de trabalho elas também estão invisíveis. De acordo com a pesquisa “Potências (in)visíveis: a realidade da mulher negra no mercado de trabalho”, 51% das entrevistadas afirmaram que receber promoções foi difícil ou muito difícil nos últimos anos e 54% das mulheres negras de classes C, D e E afirmam que o reconhecimento profissional é difícil ou muito difícil.
Ok, está claro a falta de diversidade na comunicação. Mas o que fazemos sobre isso? Além do discurso, é necessário a tomada de ações concretas e engajamento genuíno com o tema. Um exemplo são os programas de trainee ou estágios exclusivos para jovens pretos. No varejo, o Magalu foi precursor ao lançar uma iniciativa em parceria com a Indique uma Preta após identificar a necessidade de aumentar o quadro de líderes negros na empresa. Desde lá, diversas organizações lançaram programas similares, como EcoRodovias, PwC, PepsiCo, Bayer, entre outros.
Outra questão fundamental é a retenção de talentos. Um caminho é a mentoria. Além da possibilidade de falar com profissionais de um cargo mais alto, a iniciativa permite enxergar talentos ofuscados e pouco lembrados no momento de uma promoção.
Ademais, existem outras alternativas para a promoção da sensibilização e o letramento sobre o tema dentro da organização, como workshops, palestras, desenvolvimento de liderança, criação de manuais, definição de metas, criação de canal contra racismo dentro da instituição ou acolhimento mensal com um psicólogo para pessoas negras. Além de contratar, é fundamental criar um ambiente saudável e respeitoso para os profissionais, fortalecendo a cultura da diversidade e inclusão.
O ponto chave para promoção da diversidade reside na palavra reconhecimento. Reconhecer as falhas e gargalos da empresa, a falta de profissionais das mais diferentes vivências, a importância da diversidade para o atendimento de clientes e criação de boas estratégias de comunicação. E acima de tudo, se propor a corrigi-los genuinamente, assumindo um compromisso para criação de um ambiente antirracista.
Com uma equipe diversa, a agência só tem a ganhar. Afinal, por que ignorar 55% da população brasileira?
*Bárbara Moraes é jornalista, pós-graduada em Marketing e parceira da LF & Cia Comunicação.
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